Hoje fui assistir " Onde vivem os monstros " e saí da sala de cinema completamente apaixonada. O filme é fascinante, emocionante, triste, belo... uma trilha sonora que toca o coração.
Quando o escritor Dave Eggers leu, na infância, o clássico "Onde Vivem os Monstros" (1963), de Maurice Sendak, ficou aterrorizado. Foi preciso chegar aos 20 anos para ler o livro sem medo. No tempo em que foi publicado, "Onde Vivem os Monstros" passou pelo mesmo tipo de incompreensão, sendo banido de algumas livrarias. Mas a recepção dos leitores foi maior que o medo, e a obra atravessou os anos assombrando um número cada vez maior de fãs de todas as idades. Entre eles está o presidente Barack Obama, que leu o livro para crianças na Casa Branca, na última Páscoa.
Adaptação cinematográfica de Spike Jonze, o mesmo do estranho e divertido "Quero Ser John Malcovich",rompeu a cortina medrosa que o separava dos leitores mais renitentes, que temiam o pior. Afinal, daquele punhado de frases (338 palavras, segundo a revista Time) e desenhos inimitáveis não poderia sair um longa-metragem que prestasse; nem que ele tivesse entre os produtores executivos o próprio autor do livro. Nem contando com o fã medroso Dave Eggers como roteirista.
O resultado, no entanto, é uma das coisas mais sensíveis que o cinema para crianças já produziu. O único problema é que "Onde Vivem os Monstros" não é exatamente um filme para crianças pequenas, por tratar com realismo algumas questões mais tristes da infância. Este é, no entanto, um dos seus grandes acertos.
Tudo já está no original de Sendak. Max é um garoto bagunceiro, vestido de lobo, que toca o terror em casa, perseguindo o cão e ameaçando devorar a própria mãe, que o chama de monstro e o manda para o quarto sem jantar. Max, então, vê uma floresta crescer ao seu redor, entra num barco e navega por um ano e algumas semanas até chegar a uma ilha habitada por monstros, que ele domina e dos quais se torna rei. Depois de se divertir de forma selvagem, Max se cansa deles, sente saudades de casa e deixa-se levar de volta atrás do cheiro da comida ainda quente que o espera no quarto.
Spike Jonze conseguiu rechear esse enredo escasso com muita imaginação. Criou uma família disfuncional, típica do novo cinema americano, em que o pai não aparece, a mãe sustenta a casa cheia de dificuldades, a irmã adolescente só quer saber dos amigos mais velhos e o caçula fica por conta da própria imaginação. O mini-ator que interpreta Max também se chama Max (Records) e parece que foi feito para o papel. Quanto aos monstros, eles são personagens tridimensionais – embora ajudados por computadores – e não apenas bonecos peludos e esquisitos. Eles parecem refletir as relações de Max com o mundo (e as vozes de James Gandolfini, da série "Os Sopranos", e Forest Whitaker, dão muita credibilidade aos bonecos).
Freud gostaria muito do livro e do filme, pois ambos tratam de temas relacionados aos sentimentos mais primitivos da infância – aqueles com os quais nosso inconsciente tem de lidar: a raiva, o lado selvagem da alma solitária que a imaginação libera. Esses sentimentos primitivos despertaram o medo nos primeiros leitores, e devem fazer o mesmo com os espectadores mais novos. Os monstros de Jonze, cheios de personalidade, não têm nenhuma fofura, são defeituosos e cruéis como todos nós em algum momento da vida.
Mesmo pesando nesses quesitos, o filme é, na maior parte da ação, uma festa selvagem, divertida e deslumbrante. As imagens captadas em paisagens reais e as atividades dos monstrengos liderados por seu pequeno rei enraivecido são inesquecíveis. E a música, que ficou aos cuidados de Karen O, dos Yeah Yeah Yeahs, e reúne gente importante de outras bandas, como The Racounters, é triste sem perder a doçura jamais. Ajuda a tirar lágrimas do espectador ao mesmo tempo em que anima os momentos mais brincalhões do filme.
Vale a pena cortejar o cinema com o original literário, lindamente lançado no Brasil pela Cosacnaify. O processo todo foi uma encrenca, pois Sendak, 81 anos, coberto de razão, não perdoa edições mal-feitas. Foi necessária uma longa troca de correspondências para receber a bênção do autor, que exigiu papel especial importado do Canadá e lombadas feitas de tecido. De forma que apenas a língua separa hoje a edição brasileira da americana.
E também vale a pena ler "Os Monstros" (Companhia das Letras), escrito por Dave Eggers, a partir da experiência com o roteiro. "Os Monstros" herdou o pique simples e misterioso do livro infantil e do filme. Tanto quanto eles, é uma visão fascinante do que significa crescer e lidar com esses monstros a que chamamos sentimentos.
Saí do cinema com aquela sensação boa de filme bom...
2 comentários:
estamos loucos pra ver!
to baixando a soundtrack nesse instante!
Há alguns meses vimos o livro e quase compramo, agora vimos que lançou o filme e estamos doidos pra ver!!!!!
Adoro seu blog e suas dicas! E as fotos!
Bjos
Cath da Laura
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