terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Como esquecer um amor

E eis que depois de todo esse tempo, me pego aqui solitaria por um momento, pensativa, num segundo dia, no comeco de um mes de um ano que mal comecou.
Eu ja li livros, ja pintei, bordei, assisti tv, assisti a filmes, ja chorei, ja sorri e voltei a chorar, ja fui ao parque e tomei chuva, tomei sorvete logo depois, ja pensei na vida, nos erros e nos acertos e agora me pego escrevendo sobre tudo que exlode dentro de mim.
Como conseguir suportar acordar e dar a primeira golfada de ar pela manha e a encarar mais um dia nesse mundao que muitas vezes nos destroi.
Ninguem morre de amor mas o amor que tem dentro da gente as vezes morre.
O tempo voa, achei que ele amenizaria a angustia mas ela so aumentou e o no na garganta ainda persiste. Vou comecar a aceita-la como parte de mim...

E eis que fuçando nas minhas coisas passadas, achei um dos fanzines que mais amei na vida e que guardo numa caixa a sete chaves, eu acho que esse texto foi impresso em 1997 numa epoca que nem todos ainda tinham internet e os blogs quase nao existiam, as pessoas colocavam seus pensamentos e sentimentos num papel e distribuiam, muitas vezes os vendiam em banquinhas de shows, o conteudo se adequa ao momento ate hj.
Entao vamos la.

PARA ESQUECER UM GRANDE AMOR



Metodo I

1. Pode-se começar tentando sentar-se ao cair da tarde a beira do mar na areia umida sob um mormaço quente e adocicado.
2. Olhos postos no movimento das ondas. Chorar lagrimas grossas, daquelas que doem para sair, nao um pranto convulso, com soluço porque este pranto com certeza muitas vezes voce ja chorou, como primeirissimas tentativas. ESQUECER.
3. Chore um choro de poucas e grossas lagrimas, que parecem demorar seculos para rolar pelas faces.
Tente concentrar cada lagrima, sempre com os olhos nas ondas para amenizar a dor, todos aqueles momentos tao dificeis de esquecer. Talvez a boca perfumada e o abraco apertado que -a essa altura voce ja sabe- nao vao voltar nunca mais.
4. Tente concentrar em cada lagrima todos os quadros, cenas, sensacoes, misto de felicidade e dor que voce ja nao quer mais, ou ja nao pode mais carregar dentro do peito.
5. A forca que emana do movimento das aguas, o cheiro leve e revigorante do sol, somados a brisa morna, que sobra a beira-mar, irao pouco a pouco facilitando as coisas, clareando os pensamentos e tornando menos dolorido o derramar das lagrimas.
6. Pode-se entao levantar e caminhar com os pes nus pela beira da agua.
7. Reunir rosas brancas, e pousa-las, uma a uma sobre as pequenas ondas que voltam para o mar, pedindo as aguas que carreguem, e nao devolvam nunca mais toda a tristeza, toda a dor desse amor ferido do qual, vencido, se esta nesse momento abandonando.
8. Se, no entando, este abrir mao, nao esta sendo absolutamente sincero, a recaida eh fatal. A paixao volta, AVASSALADORA, CRUEL, TORTURANTE.
Outros metodos -agora bem menos suaves- Tornam-se necessarios para estancar o mal.

Entre os metodos I e II

Algum tempo ja se passou entre a aplicacao do mal sucedido metodo um.
Voce ja sabe que as razoes do insucesso, prendem-se ao fato de que, a epoca de sua aplicacao, voce ainda nao estava absolutamente convencida de que aquele amor tinha mesmo que morrer.
Alguma teimosa esperança, alguma expectativa, ainda rondeavam quase que imperceptivelmente o seu coraçao.
Agora, voce esta sendo obrigada a ver que as coisas nao progridem. Nada entre voces engrena, o afastamento eh total.
Voce ja foi boazinha, ja foi cruel, ja foi facil e dificil.
Ja foi carinhosa, ja fingiu frieza, ja foi meiga, ja xingou, ja tentou provocar ciumes, ja demosntrou ciumes, ja fingiu aceitar as outras mulheres.
Nao da! Nao da!
Eh preciso esquecer, acordar, tomar consciencia, esquecer.

Metodo II - a transfusao.

Do água! 1997

1. O quarto esta escuro. Nao a escuridao total, mas sim aquela penumbra repousante, como aquela que se desenha a nossa frente quando, ao acordarmos na escuridao da noite, cegos, sentimos a pulipa se acomodando, e percebemos, aliviados, que a cegueira nao eh total. Deitada em uma cama, voce sente ver somente o teto de um quarto de hospital. Voce se sente fraca, mas terrivelmente lucida.
2. No seu braço direito, a canula por onde goteja sangue para dentro do seu corpo.
3. Do seu braço esquerdo pende uma segunda canaleta, da qual escorre, diretamente para um recipiente cilindrico de aluminio, um sangue escuro e carregado de aparencia heterogenea, ora mais denso, ora mais diluido, variando essa consistencia de acordo com a intensidade da dor que lhe procovam seus pensamentos.
4. Dele sai purificado e limpo, vermelho vivo, homogeneo, quente. E esta justamente ligado a canaleta que esta alimentando voce.
5. Voce esta, durante o processo, sendo obrigada, sabe-se la porque força -muito provavelmente a sua propria força de vontade- a ver e admitir tudo de ruim, de humilhante, de pernicioso, enfim, que ha nesse amor carrasco que tanto a atormenta e do qual voce esta, mais uma vez, tentando livrar-se, cada vez que voce aceita uma verdade, ou mesmo admite, sem mesmo entender, que tudo aquilo eh intoleravel. O sangue que deixa voce sai escuro, doendo para passar nas veias, como se contivesse particulas solidas. Sintese do seu proprio sentimento.
6. Eh como se a simples consciencia de que aquele processo de auto-transfusao nao sera eterno. Lhe desse novas forças, devolvendo-lhe a clareza da mente, ha tanto tempo roubada por aquela inutil paixao.
7. O escoar do sangue carregado de suas mas lembranças ainda eh dolorido, mas voce se concentra ainda mais, sabendo que aquilo vai acabar. A uma certa altura, voce pode ver que o sangue que sai do seu corpo ja eh tao puro quanto o que o esta alimentando.
8. Uma sensaçao doce de alivio a invade, novas forças, sua consciencia e individualidade de novo entregues a voce. Voce pode agora desatar as canaletas. A saida do hospital. Alguem lhe entrega sua carteira de indentidade, que voce pensava ter perdido ha anos.
9. A claridade do sol, tao repentina apos tanto tempo na penumbra, arde os olhos, mas de um ardor que te da prazer.
10. O metodo foi sofrido, dolorido, nao foi... voce jamais poderia ter chegado a ele, sem uma infinidade de tentativas de outros metodos mais suaves.
11. Voce apalpa seu proprio corpo e sente prazer, esta corada, os pontos das agulhas nos braços ainda doem. Ha aqueles pedacinhos de esparadrapos branco, lembrando que ali aconteceu alguma coisa.
12. Mas em pouco -a nao ser que voce procure muito- as picadas das agulhas nao aparecerao mais, voce sorri e caminha sabendo-se PRONTA PARA RECOMEÇAR.
...

ps- desculpem-me pela falta de pontuaçao.